O sol, a rosa e a neve. Nath, Jade e eu, respectivamente. Nos imaginar assim deixava a minha mente mais relaxada e descontraída enquanto andava novamente para a casa de Inkas. Eu já havia atingindo o meu limite atlético do dia, então tudo que eu podia fazer era andar, e não correr. Se tudo ocorresse bem, eu chegaria em meu destino em trinta minutos.
        Eu devia me decidir. Haveria que escolher entre o sol de minha vida e a rosa que perfumava os meus dias. Conviver com Jade me forneceu uma imensa sensação de alegria. Eu adorava acordar e sentir o cheiro de sua pele bronzeada e as mãos fortes de jardineiro eram firmes no meu corpo. Mesmo assim, os seus beijos eram tão doces, tão macios... Eu também adorava seus cabelos verdes, chamativos e desgranhados. Poderia ficar horas sentindo-os entre os meus dedos.
        Nath, por outro lado, me fazia transbordar em segurança e gentileza. Estar com ele era o mesmo que ser preenchida por pensamentos positivos e duradouros. Quando ainda estava no hospital e ele se sentava ao meu lado na maca, eu apenas precisava me apoiar em seu peito para que toda a  dor e o medo evaporassem do meu corpo. E como se todo esse carinho não bastasse, Nathaniel ainda possuía cabelos dourados tão vívidos que me deixavam hipnotizada.
       Eu provavelmente teria continuado com esses pensamentos, mas uma silhueta comum surgiu e se aproximou. Jade. Eu permaneci imóvel, parte de mim ansiosa para correr até ele e me jogar em seus braços, outra assustada, em alerta para qualquer demonstração de dor e raiva. Deixei que viesse até mim, e quando me alcançou, disse:
-Eu estava retornando a South Lake City, mas depois de algumas tentativas frustradas de "você não está bem o bastante" e "estou com saudades, fique mais um pouco", Inkas me contou que você estava indo conversar comigo. Só que eu não podia imaginar você andando sozinha nessas ruas essa hora do noite. Fiquei preocupado.
-E...como me achou? Não é uma cidade pequena- eu disse, ainda surpresa. Ele estava sereno, facilitando para conversar.
-Inkas disse que tinha alguma ideia de onde você estava. De todo o modo, que bom que te achei. E queria te pedir desculpas por ter entrado na sua casa com a chave reserva.
-Esta tudo bem. Se eu não confiasse em você, não lhe deixaria saber onde fica a chave.- eu disse, lembrando de todo o ocorrido.- E a propósito, desculpe por tudo o que você viu naquele dia.
        Jade ficou em silencio. Em seguida, olhou as estrelas, longa e demoradamente, como se fosse a primeira vez que fazia isso em muito tempo. Eu o acompanhei. O céu estava tão escuro que ressaltava o brilho da lua cheia. Por um impulso, me lembrei dos cabelos ensolarados de Nathaniel. Afastei o pensamento e me concentrei em Jade.
-Está tudo bem, também. Eu não deveria ter reagido daquela maneira por você estar seguindo com alguém. Eu a abandonei. Não deveria ter feito isso, mas achei que era a melhor opção. O seu coração era do Kentin.
- O meu coração, Jade, não pertence a ninguém além de mim. Não é seu, não é do Nathaniel e nunca foi do Kentin.- Eu disse, me virando para encará-lo. A imensidão de seus olhos verdes me deixou em êxtase.- Não devemos dar o nosso coração a pessoas que amamos. Devemos deixa-lo aberto para receber as pessoas que amamos. Algumas delas irão embora, outras ficarão para sempre, mas não seria essa a essência de amar? Torcer para que a pessoa escolha o seu coração como morada? E caso não faça isso, rezar para que ela tenha com alguém a felicidade que você não pode dar.
       Nos sentamos num canteiro de flores em frente a uma loja de ferramentas antiga. Silêncio. Comecei a brincar com algumas pétalas rosadas.
- Eu te amo, Emery.- ele disse, rompendo a calmaria que nos envolveu. As palavras foram diretas e sinceras.
- Eu também te amo, Jade. Mais do que eu mesma gostaria de admitir.- rimos juntos.
Senti sua mão tocar a minha. Com a ponta dos dedos, fez pequenos padrões circulares sob a minha pele. Eu me aproximei. Sabia aonde chegaríamos e, alguns segundos depois, estávamos nos beijando. Enquanto um de seus braços me pegou pela cintura e uniu nossos corpos, o outro subiu e, com a palma da mão, tocou a minha bochecha. Depositei as minhas em seu peito e, logo depois, segurei a parte de trás de seu pescoço com todas as minhas forças.
         Não sei quanto tempo permanecemos ali, mas foi o suficiente para que o ar de meus pulmões sumissem por completo. Quando paramos para recuperar o fôlego, ele encostou sua testa na minha. Algumas lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Ele fitou o chão e, em seguida, olhou me profundamente.
- Por que eu tive a sensação de que esse beijo é uma despedida, Emery?
- Porque eu estou dizendo adeus, Jade.- Minha voz arranhou a minha garganta. Aquilo machucava nós dois.
- Eu achei que você me amasse... que...- eu o interrompi, colocando o dedo em seus lábios macios.
- Eu amo, Jade. E é por te amar que eu estou te deixando partir. Você é uma alma livre, Jade. Nasceu para viajar, encontrar plantas novas pelo mundo, conhecer novos lugares... Eu não sou assim.
         Limpei as lágrimas eu seu rosto e beijei sua bochecha. Nos abraçamos por um bom tempo.
- Bem, eu não posso discordar de você.- Ele me disse.- Me mudo para Park City no mês que vem.- Novamente, nós rimos.- Eu tenho que ir agora, Emery. Inkas deve estar preocupada e tenho muito o que arrumar para poder ir embora amanhã. Seguir em frente.- ele deu uma pausa. respirou fundo, -Adeus, Emery.
- ATÉ LOGO- corrigi-o. O canto de sua boca se levantou. Saudades de vê-lo sorrindo assim.
- Até! E nunca se esqueça que sempre te levarei comigo.
- E você sempre ficará comigo, bem aqui- eu disse, apontando para o meu coração. Clichê, mas sincero.- E Jade? Minhas chaves reserva sempre estarão no vaso de orquídeas.- Ele acenou positivamente, sorrindo e com nítidas covinhas.
       Eu fiquei no meio da rua vendo-o se afastar. Não havia carros transitando, mas mesmo se houvesse, eu não me importaria. Ele virava vez ou outra e acenava e, quando realmente desapareceu do meu campo de visão, eu pude voltar pra casa. Havia apenas algumas palavras de Nath na minha cabeça:
"Amanhã, as oito horas da noite, estarei na ponte da cidade. Se você for lá, eu saberei que me escolheu."
Eu havia o escolhido.


                                                                     ***
        O dia seguinte passou rápido. Eu precisei fazer algumas lições atrasadas e ajudei Marry a arrumar algumas roupas novas que ganhou de presente de Lys. Parece que ser namorada do irmão do dono da loja de roupas também te dava algumas vantagens.
         De todo modo, quando deu as sete horas da noite, comecei a me aprontar. Eu não sabia o que vestir e revirei o meu guarda roupa e o de Marry em busca de alguma coisa que fosse decente. No fim, escolhi um vestidinho escuro com pequenas flores, um sapato de salto mediano e o cabelo solto. Era algo simples e bonitinho. Na hora de me vestir, me peguei olhando para a estampa florida e pensando em Jade, mas me concentrei em Nath.
         A ponte da cidade era enorme. Atravessava um rio largo e de água azul que a população se esforçava para cuidar. De dia, a beleza era enorme. A noite, incomparável. Os postes de luz coloniais possuíam as lâmpadas envoltas em cristal, o que iluminava o ambiente com vigor. A água parecia tão calma que poderia ser confundida com um espelho refletindo a lua cheia, pálida e brilhosa.
         Quando me aproximei, eu podia ouvir o bater do meu coração contra o peito. Nervosismo, ansiedade... E se Nath estivesse desistido? E se tudo isso fosse em vão? Pensamentos negativos começaram a ganhar proporções gigantes na minha cabeça, até que eu o vi. Eu ainda estava me aproximando da ponte quando o reconheci. Parado, encostado em uma das grades laterais. Ele parecia preocupado, talvez pelo meu atraso de quinze minutos devido ao trânsito tumultuado.
         Mas tudo mudou quando ele me viu.
         Não havia mais medo. Preocupação, Nenhum sentimento ruim. Apenas presenciei, pela primeira vez, o sol brilhar em plena noite. Ele correu em minha direção e, quando dei por mim, também estava correndo na dele. Queria me desculpar pelo atraso, mas ele não deixou. Tudo que Nathaniel fez foi, depois de sussurrar um "Você veio", me beijar com todas as suas forças.
         Eu estava em órbita. Havíamos nos fundido, sem nenhum espaço entre nós. Segurei sua cintura enquanto ele segurava, com toda a suavidade, o meu rosto e meu pescoço. Depois enlacei sua nuca e deixei que tomasse minha cintura. Seu hálito era agradável e quente. Na verdade, tudo em seu corpo exalava calor. O cheiro era familiar, o mesmo perfume de amêndoas, leve e suave.
        Quando nos separamos, eu me inclinei e beijei toda a região de seu pescoço, a ponta de seu queixo, a maça do seu rosto... Ele mordeu meus lábios em seguida e retomamos o beijo, dessa vez mais suave e menos urgente.
        -Emery...- ele sussurrou o meu nome no meu ouvido, como se fosse devoto a mim. Como se eu fosse o hino nacional e ele, um patriota. - Obrigado por ficar comigo...
        -Eu estava dividida, mas eu também sabia quem eu queria. Era você quem ficou comigo quando eu precisei. Era você que cuidou de mim e que me ajudou a superar uma das piores fases da minha vida. Jade vai ficar bem, ele é uma alma livre. Eu não.- eu olhei nos olhos de Nath. Uma mistura de dourado e caramelo.- Eu te amo Nathaniel.
       -Eu te amo, Emery.
       Naquela noite, tudo foi perfeito. Comemos pizza e, para nossa surpresa, começou a chover. Podíamos ter esperado a garoa passar, mas qual graça haveria em observa-la cair? Preferimos sair e sentir as gotas sobre nós. Também beijei-o na chuva. Pela primeira vez, tudo parecia em completo equilíbrio.
       Marry e Lys estavam firmes em seu relacionamento e Inkas e Castiel estavam mais felizes do que nunca. Ela sempre me atualizava sobre Jade, em constante viagem pelo país. Ele estava feliz e pretendia passar o natal conosco. Por fim, Nath e eu estávamos juntos em um namoro sério e bem alegre.
       Algumas escolhas podem ser destrutivas, pois conseguem abalar o nosso emocional. Mas, na maioria das vezes, não tomá-las é o que realmente nos destrói. Somos humanos e devemos aprender que nem sempre as coisas serão como queremos. Iremos perder amigos, familiares... Tudo que temos que fazer é lutar por quem nos faz bem e ter a maturidade de que, as vezes, amar alguém é deixá-lo ir. No fim, o que vai te fazer melhor é ser ciente de que fez tudo ao seu alcance de forma honesta e amorosa.
       Assim, eu estava bem. Finalmente.


                                                                   FIM
     
Agradecimentos: Gostaria de agradecer a minha amiga Marry, que me ajudou em diversos momentos na história, tanto com as capas e templetes, quanto com os bloqueios criativos que tanto aflingem os autores. Espero que tenha se sentindo homenageada como irmã de Emery nessa História De Uma Docete. Também quero deixar o meu "obrigado" para minha amiga Maria Karolina, que me tirou de diversas crises de autor e que sempre está do meu lado, independentemente se estou escrevendo ou vivendo. Você é a minha Inkas.
                                                   Com amor,
                                                                    Emerson
                                                                           (Emme)
     


     - Em's,- ela me interrompeu, agora séria- ele está na minha casa. Para vê-lo, basta apenas subir as escadas.
        Por um momento, eu não tive reação. Jade estava na casa de Inkas, nada mais lógico que isso. Eu queria correr, abraça-lo, pedir desculpas e perdoa-lo também. Mas eu não podia fazer isso. Esse ano, transformei minha vida em algo caótico. A volta do Kentin, o começo e o fim de um relacionamento com Jade, o abandono, o acidente, Nathaniel... Eu deveria sim conversar com Jade, mas antes, iria esclarecer as coisas, comigo mesma e com os demais envolvidos nessa confusão.
        Chega de pessoas feridas. Chega de dor. Chega de ressentimento.
       -Inkas, não deixe que Jade volte pra South Lake City. Preciso resolver algumas coisas antes de conversar com ele. 
        -Mas Emery...
        -POR FAVOR. Apenas não deixe ele ir, ok?- Interrompi. Ela acenou com a cabeça positivamente e, logo em seguida, sai correndo noite a dentro.
      Havia muita coisa na minha cabeça. Flashes sobre minha conversa com Jade, o rosto de Nath... tanto para se desculpar, para corrigir. Mas eu sabia por onde começar: Kentin. Ele havia voltado e dissera que me amava. Queria fazer com que Ambre se apaixonasse por ele para que pudesse descobrir suas fraquezas e se vingar pelas coisas ruins que ela causara. E ainda estão juntos. 
         Parei por alguns minutos para recuperar o fôlego e fui até o apartamento de Ken. Bati na porta rezando para que ele estivesse em casa e não com a Ambre. Mais algumas batidas e nada. Parecia que ele não estava ali, e a porta só se abriu quando eu já havia me afastado.
       - Emery? O que faz aqui?- disse, os olhos em nítida dúvida. Havia me esquecido que não tivemos um encontro muito agradavel no hospital, a bile subiu, acompanhando minha súbita vontade de socá-lo. Respirei fundo e me controlei. 
      -Kentin... vim aqui porque temos um assunto pra encerrar. Eu tenho que entender o que você sente por mim, como me vê e saber a respeito do seu plano de vingança com a Ambre.
         Ele parecia atordoado, e de fato, se deparar comigo fazendo perguntas desse tipo às dez horas da noite na porta de sua casa não era lá muito normal. Mas eu tinha pressa. Havia muito o que resolver e pouco tempo para para agir. E se Inkas não conseguisse evitar a partida de Jade?
      - Olha, eu sei que brigamos no hospital, estou disposta a deixar isso tudo de lado, mas eu preciso esclarecer as coisas, Ken. Por favor, me ajude. - Ele respirou fundo. A blusa de pijamas marcavam a silhueta de um corpo musculoso e forte. Ele fechou a porta e se sentou na calçada. Eu o acompanhei.
      - Não há mais plano de vingança.- Ele começou. Fiquei em silêncio, incentivando-o a continuar.- De fato, quando me aproximei dela pretendia achar alguma fraqueza, fazê-la pagar por tudo de ruim que fez. Mas aos poucos eu fui conhecendo a verdadeira Ambre. Uma garota que não é ruim, mas sim, extremamente insegura, com pais ausentes e que viu na indiferença aos outros uma forma de fingir que esta tudo bem. E quando eu menos esperava, eu já não queria mais fazer mal a ela, e sim ajuda-la a concertar as coisas. E eu amo você, Emery, por isso que fiquei tão alterado quando te vi com o Nathaniel no hospital. A questão é que tambem estou apaixonado pela Ambre e não sei o que fazer.
          Ken coloco o rosto entre as mãos. Seus cabelos liso-ondulados caíram sobre as unhas e as pontas dos dedos. Sua confissão, definitivamente, explicava muita coisa. Coloquei a minha cabeça em seu ombro.
     - Sabe, Ken, nós sempre funcionamos bem como amigos. Pode parecer confuso agora, e acredite em mim, eu entendo de confusão, mas se você pensar bem e olhar dentro de você, lá no fundo, vai perceber que não me ama mais. - Nossos olhares se encontraram. Ele estava contemplativo, apesar de ouvir bem o que eu falava.- Você só precisa me deixar ir, Ken. Precisa seguir. 
          Ele riu e eu o acompanhei. Beijei sua testa e me levantei. Mandei-o dizer a Ambre que, caso queira, poderíamos começar de novo. Sem inimizade. Quando virei a rua, Kentin ainda estava acenando e gritando um "cuidado, está tarde". Dez minutos depois, eu estava na esquina na casa de Nath. Me sentei no banco do ponto de ônibus cuja tinta verde já começava a descascar. Estava exausta, o que me fez pensar se eu deveria entrar em alguma academia ou equipe esportiva do colegio pra melhorar o meu fôlego. 
      - Emery? O que esta fazendo aqui?
         Me virei e encontrei Nath. Estava com embalagens de fast food na mão e um copo de milkshake. Ele se sentou ao meu lado, mas ainda manteve uma distancia considerável. 
      -  Eu vim te procurar, Nath. Estava a caminho da sua casa mas resolvi dar uma parada e me lamentar por não ser atlética e estar cansada de correr depois de 10 minutos. - Ele sorriu. Ainda havia distância entre nós.- Eu gostaria de te pedir desculpa, Nath. Por te fazer esperar em minha casa enquanto eu conversava com o Jade e, em seguida, te pedir para ir embora. Eu sei que você entendeu que eu precisava ficar sozinha, mas não foi justo e nem legal da minha parte.
      - Esta tudo bem, Em's. Realmente. A única coisa que me deixou magoado foi o meu azar- ele disse, dessa vez com uma risadinha dolorosa- logo quando eu decido falar o que sinto para a garota que eu amo, logo quando ela me da um sinal de que é recíproco, o ex volta. O destino não gosta mesmo de mim. Mas agora, vocês dois vão poder se resolver e é isso que importa. Deu pra perceber que vocês se amam.
       Nath sorriu novamente, da forma mais calorosa que conseguiu. Ele não estava me aquecendo, e sim, derretendo o meu coração. 
      - Eu amo o Jade, Nath.- Eu disse, e percebi as lágrimas que se formavam ao redor dos seus olhos.- Mas não mais do que eu amo você, Nathaniel. Eu costumava a amar o Kentin, minha primeira paixão, desde criança. Mas ai conheci o Jade e decidi ter algo com ele. Foi uma decisão prematura, eu realmente queria ter algo a mais com alguem e por que não com ele? Acabei amando-o mais do que imaginava. Aos poucos, fui superando Kentin e, quando dei por conta, estava deitada numa maca num hospital por causa de um acidente. Queria Jade ali mas não havia ninguém. Até chegar você. Você foi o sol que derreteu o meu inverno. E por muito tempo, eu fiquei dividida entre me preocupar sobre o paradeiro de Jade e me envolver no seu calor. Agora estou dividida entre vocês dois. 
      - Mesmo que não escolha agora, Em's, não irei desistir de você. - As palavras de Nath penetram meu coração. Eu o amava, era estúpido negar. O tempo passava, o frio chegou. A dor da escolha começava a crescer cada vez mais dentro de mim e, com ela, o sofrimento de perder algo que eu nunca mais iria reconquistar.
        Todavia, foi uma questão de segundo até que todo o espaço entre nós desaparecesse. Nath me beijou e meu coração, antes derretido, agora estava em chamas. Não foi demorado, foi rápido, urgente. Talvez essa tenha sido a forma de Nathaniel mostrar que entendia a angustia dentro de mim, ou ele, mais do que ninguem, precisava de me tocar. Ele se afastou. 
       - Tenho que ir, Emery. Eu sei que precisa pensar. Que tem decisões pra tomar, mas eu não aguento esperar mais. Amanhã, as oito horas da noite, estarei na ponte da cidade. Se você for lá, eu saberei que me escolheu. Se não for... bem, terei que lutar mais. 
        Eu acenti. Me senti pressionada, um dia para decidir entre o meu sol e  a minha rosa, mas sei que se esperasse mais tempo, eu poderia piorar a situação. Nos despedimos com um abraço forte. Senti o contorno dos seus ombros e a suavidade de sua clavícula no meu queixo. 

      Eu deveria, ou melhor, iria escolher. 
      Chega de fraquejar. Hora de dar um fim nisso. Peguei o meu telefone e digitei um número super familiar:
- Alô, Inkas? Estou indo para ai. Estou indo ver o Jade. 

      

         O ônibus escolar ,com os alunos que haviam ido para a excursão, chegou a noite, por volta das 20 horas. Marry foi a primeira a saltar, anunciando uma súbita necessidade por um banho de banheira quente com muitas espumas. Quando me viu, esperando encostada num poste, correu e me deu um abraço apertado, como se não me visse à décadas, não apenas três dias.

         -Não precisava me esperar, Em's. Você teve alta a pouco tempo, precisa de descanso.
         -Desculpe, Marry, mas eu vim porque preciso falar com Inkas. - Lancei-a um olhar sério, de forma que ela pode rapidamente perceber que eu tinha algum assunto pendente a ser finalizado.
        -Não volte tarde demais, ok? - Marry disse, com um tom de preocupação e curiosidade velada.

        Me encostei no poste, até que Inkas e Castiel apareceram junto a Íris e Violet. Eles se apressaram e me abraçaram de um jeito bem delicado, como se minhas costelas ainda estivessem fraturadas, então me adiantei e apertei-os com toda a minha força, mostrando que eu já estava melhor. Cas e Inkas se despediram e começaram a andar, mas me adiantei:

         -Cas, foi mal, mas teria como eu levar Inkas para casa hoje? Preciso conversar com ela.
         - Ahn, tudo bem, então.- Ele disse, surpreso e um tanto quanto decepcionado. Provavelmente, sua cota de beijinhos não chegara ao fim.

      A medida que Inkas e eu nos afastávamos dos demais, eu podia perceber a expressão de diversão em seu rosto se transformar em seriedade.
       
         - Em's está..
         -Jade apareceu na minha casa e pegou o Nathaniel me ajudando a por o sutiã- interrompi-a. Ela me fitou espantada com o jorro de palavras.
         -Por que diabos o Nath estaria te ajudando a por o sutiã? E como o Jade entrou na sua casa?
         -As chaves reservas estavam no vaso de orquídeas que Jade me deu e sabia que não é nada fácil por o sutiã com as costelas enfaixadas? Eu estava usando uns com a botoadura na frente, mas não havia mais desses limpos, então tive que usar um comum e pedir ajuda.
         -E..-Ela suspirou- mais do que as suas costelas, você também queria seguir em frente, certo?
         -Sim- e foi a minha vez de suspirar- ... se pelo menos eu soubesse onde Jade estava, eu poderia ter ido lá ou enviado uma carta...
         -Emme, eu...- Inkas parecia desconfortável, como se quisesse confessar algo (que eu já sabia)
         - Não, Inkas, eu sei que Jade não te disse onde estava, e tenho certeza que você me contaria caso soubesse, certo?

      Inkas parou, focando os olhos na calçada. As mãos se juntaram na frente do corpo, constrangida e um tanto quanto decepcionada consigo mesma. Ela não parecia saber como ou o quê dizer. Ainda cabisbaixa, abracei-a, de forma inesperada.

        - Eu sei que você estava mandando cartas para Jade, que sabia onde ele estava e que não quis me dizer. Sinceramente, eu te perdoo, apesar de querer saber o porquê.
        - Eu achei que manter Jade em segredo seria a melhor coisa a fazer pelo meu irmão. Ele queria espaço e eu tentei garantir isso. Espero que entenda.

          Eu entendia. Marry era uma pessoa repleta de qualidades e defeitos, mas nunca falhou como irmã. Eu não hesitaria em fazer algo que julgasse melhor para ela. Soltei Inkas e, quando chegamos na porta de seu pequeno prédio, me despedi. Atravessei a rua Penne e toda a sua arquitetura neogótica, indo em direção oposta a minha casa.
        - Onde você vai, Em's?
        - Tenho que descobrir onde Jade está antes que ele...
        - Em's,- ela me interrompeu, agora séria- ele está na minha casa. Para vê-lo, basta apenas subir as escadas.

                                                                    ***

         

     

            -Alô, quem fala? - Disse após atender o telefone.

            -Em's? Aqui é a Marry. Que bom que você já chegou para casa!- Respondeu-me, com um tom animado na minha voz. Sempre que falava assim, dava pequenos pulinhos.- Eu liguei para o hospital e disseram que você já teve alta, então resolvi avisar que já estou indo para casa. Amanhã eu chego aí.
           -Que bom, Marry! Não vejo a hora.- Tentei colocar um pouco de entusiasmo na voz, mas não foi bom o suficiente. 
           -Está tudo bem, Emery? 
           -Claro. Porque não estaria? Estou em casa, afinal.- Falei, com mais convicção. Foi o bastante dessa vez.
           -Sendo assim, até amanhã, Em. 
      Desliguei o telefone. Não, eu não estava nada bem. Assim que Jade foi embora, desci as escadas em direção à sala. Nath ainda me esperava e, com nós na garganta, pedi que me deixasse sozinha um pouco. Ele entendeu. Agradeci-o por ter sido tão gentil ao me trazer em casa e abracei-o, lisonjeada por toda a doçura que teve ao ficar ao meu lado durante os dias no hospital, antes de nos despedir.
     Agora, estava deitada na cama. E ainda estava chorando. Gotas quentes desciam pelo meu rosto, contornando meus olhos vermelhos e desaparecendo perto do pescoço. Lembrei de "Shades of Cool", música de uma das minhas cantoras favoritas, Lana Del Rey. Na versão instrumental da música, ela diz, em um vocal simples e quase inaudível,  "You're crumbling sadly. I'm sorry. You're gone with me"  (Você está desmoronando ,tristemente. Sinto muito. Você se foi comigo). Agora eu entendo essa frase. Quando Jade foi embora, eu fiquei destruída. E por tentar preencher o vazio que surgiu em meu peito, apenas me perdi ainda mais. E dessa vez, levei-o comigo. Ambos desmoronamos com nossas lágrimas, revelamos nossas dores e nos agredimos, usando nossos próprios sentimentos. 
       Recordei-me do que foi dito por ele e, respirando fundo, tentei criar uma linha de raciocínio. Jade disse o porquê de ir embora, ou melhor, fugir, pois, quando temos problemas, abandoná-los é apenas uma forma de escapar temporariamente, já que podem crescer e afogar a esperança que ainda existia. Jade também não sabia do acidente, mas se me lembro bem, ele referiu-se a uma carta. E de repente, uma pequena possibilidade surge em minha cabeça: A caixa de correios.
       Desço as escadas aflita e desajeitadamente. Ao passar pela porta, a fragrância de amêndoas de Nath se mistura ao cheiro de jasmins e hortelã. Inspiro ,e flashes dourados, como o sol, e verdes, como a grama, se chocam em minha mente. Recupero-me e e vou em direção à cerca branca, e percebo que a haste lateral da pequena caixa laranja estava levantada, indicando que havia-se uma correspondência. Abri-a.
      Dentro, encontrei um pequeno envelope beje, com um selo de South Lake City. Sentei-me ali mesmo, e comecei a ler. Meus lábios tremiam, mas logo, a decepçao e dor que aquilo me causava se transformou em dúvida. Jade havia dito para avisar Inkas que ele havia "chagado bem". O fato de serem irmãos não era uma novidade, afinal, os cabelos verdes e o sorriso miego eram semelhanças bem perceptíveis, mas ela sabia que ele ia embora. Levantei-me. Amanhã, assim como Mary, ela irá chegar da excursão. E eu estou disposta a conseguir respostas.



OBS: A carta que Emery leu pode ser encontrada no Capítulo 13- Algumas Explicações.


      -Nathaniel, por favor-, disse Jade- tem como nos deixar as sós? Queria conversar com Emery por alguns minutos.
       -Ahn, tudo bem, então-, respondeu.

              Peguei uma blusa larga,daquelas que ultrapassam os joelhos,e vesti-a. Mas ainda não possuía coragem para me virar e olhar em seus olhos. Minhas pernas bambearam, mas não caí.
     -Olhe para mim, Emery- disse, com tons agudos de sofrimento. Aquilo era doloroso para nós dois. Meus músculos se contraíram, minhas unhas se cravaram nas palmas de minhas mãos, e virei.
              Olhei-o em um misto de emoção e espanto. Seus olhos, ao contrário do que imaginei, estavam desbotados e fundos, sua pele, normalmente bronzeada, empalecera. Abaixei a cabeça, forçando-me a não chorar e sufocar o pensamento de que eu era a responsável por tanta destruição e dor. Ele te abandounou, Emery. A culpa não é sua, pensei.
     - É tão fácil substituir alguém,não?
              Fitei-o. Sua pergunta, mesmo dita em voz alta, não parecia ter sido direcionada a mim. Estava pensando alto.
     -Você voltou. Não achei que isso fosse acontecer.- balbuciei, gastando minhas reservas de coragem.
     -E pelo visto você não teve dificuldade em me esquecer- Senti-me como se tivesse sido estapeada por aquelas palavras. Slap.
     - Queria que eu ficasse te esperando?
     - Eu te amava e...
     - Que forma adorável de demonstrar, não? Agora, abandonar alguém é o mesmo que dizer um "Eu te amo"?- Slap. Agora eu o havia acertado.
            Ficamos em silêncio. Ambos desviamos os olhares. Nossas vozes se amansaram.
      - Por que me deixou?- eu disse, sentindo as lágrimas quentes tomarem forma.- Por que não ficou comigo? Podíamos ter dado certo e...
       - Durante a noite, você chamava o Kentin. Sussurrava seu nome. Você estava se torturando para fazer o nosso namoro ser real e ...-Parou, respirando fundo- e isso me matava.
                Sentei-me na cama. Meu estômago se revirou. Eu era a responsável por Jade ter partido. Era simples. Mas eu o amava. Estava dividida, sim, confesso, mas nada que havia dito era mentira. Iria responde-lo, mas continuou:
       - Eu te mandei uma carta. Você poderia ter me mandado alguma notícia, um sinal de vida. Seria decente da sua parte.
       - Desculpe, mas tive alta hoje do hospital.
       - Hospital?- Ele perguntou, meio atordoado.
       - Alguns dias depois que foi embora, eu fui atropelada. Fiquei adormecida por alguns dias e tive que esperar algumas sequelas melhorarem, mas estou melhor agora...
                Ele se sentou em uma cadeira antiga encostada perto da porta. Tapou seus olhos com as mãos e apoiou seus cotovelos nos joelhos. E após alguns minutos em silêncio, Jade começou a soluçar. Estava chorando, rítmica e dolorosamente. Odiei-me. Por fazer Jade chorar, por ser distraída o bastante para ser atropelada e, simplesmente, por existir. Odiei-me tanto que também chorei. E, aos poucos, sussurrei:
          -Eu queria que você estivesse lá. Esperei horas, dias por noticias suas. Mesmo que ligasse dizendo que nunca mais queria me ver, seria algo bom, porque eu iria saber que você estava bem..- engasguei. A voz começava a falhar- Nath foi um amigo fiel. Estevava lá sempre que podia, deixando suas responsabilidades de lado para me reconfortar e apoiar... Então não me odeie por transformá-lo em um porto seguro. E não o odeie por me dar essa oportunidade.
               Jade se levantou. Enxugou as lágrimas na manga da camisa fosca e olhou-me, como havia feito diversas vezes. Mas eu desconhecia aquela expressão: Dúvida? Indiferença? Sustentei o seu olhar, vazio e oco. Depois, disse, com a voz ainda alterada:
            -Tenho que ir. Sugiro que troque o esconderijo de sua chave extra: O vaso de orquídeas que eu te dei não é muito seguro.
                E foi embora. Ouvi seus passos,descendo as escadas e, segundos depois, o bater da porta. O que eu deveria fazer agora? Novamente, eu estava perdida.
     

         Minha casa parecia diferente. Eram os mesmos tons de tinta nas paredes e calhas, as mesmas plantas no jardim e a antiga bicicleta de Marry continuava jogada ao lado do vaso de orquídeas. Porém, ficar quase um mês no hospital me fez sentir uma saudade enorme de cada canto da minha casa, até mesmo do cheiro de pinheiro e da visão dos orvalhos durante as neblinas da madrugada.
         Nathaniel tocou o meu ombro. Ele havia abandonado as atividades de representante para me ajudar na volta. Olhei em seus olhos, mais dourados que nunca diante o sol, dei dois passos e abri a porta. O metal da maçaneta,frio, em minha pele.
         A casa estava um pouco empoeirada, mas não chegava ao ponto de incomodar. O que realmente me chateava era a ausência de meus pais: Sempre trabalhando com seus inquestionáveis chefes, independente da situação na qual eu e Marry poderíamos nos encontrar. O bom disso é que aprendemos a nos virar sozinhas, e logo fui preparar algo para que eu e Nath possamos comer.
          A principio, Nathaniel relutou, dizendo que eu deveria estar de repouso, mas logo o convenci, alegando que ficar dias no hospital, deitada numa cama o dia e a noite toda já era repouso suficiente pra todo o resto da minha vida. Peguei massa, ovos e leite, acrescentei fermento, e preparei a massa de um bolo. Coloquei-o no forno.
         Nath estava sentado no sofá da sala, as costas escoradas nas almofadas turquesas, esticando a blusa sobre seu tronco e expondo o formato de suas omoplatas. Avisei-o que iria trocar de roupa. Não aguentava mais usar um conjunto branco de malha. Subi as escadas, ainda receosa sobre o que poderia encontrar no meu quarto.
          Abri a porta, me deparando com a sensação de saudade do único lugar inviolado, que até Marry sabia que não deveria entrar sem minha permissão. Sim, aquele era o único local no qual ninguém conseguira me atingir, já que até meu coração havia sido ferido. Kentin, Jade... Quem seria o próximo?
Me livrei dos desvaneios. Peguei uma blusa antiga no guarda roupa, vermelha e surrada, daquelas que vão até o joelho, coloquei um shortinho preto comum e desci. E não acreditei no que encontrei.
         Em menos de 10 minutos, que foi o tempo que levei para  ir ao meu quarto e voltar, Nath havia adormecido. A cena me comoveu. Sempre me visitava no hospital e deixou de viajar com a turma para poder me ajudar. Ás vezes, ficava até tarde da noite me esperando dormir e já estava acordado quando eu me levantava. Devia estar exausto. Mas o sofá não era tão confortável, então decidi levá-lo para a cama.
         - Nath, acorda. Você não pode dormir aqui.
         -Aahn! Desculpe, Em. Já vou me levantar e te ajudar a arrumar as coisas.- respondeu, bocejando e com os olhos piscantes.
         - Não é isso, Nath. O sofá é desconfortável, vêm, pode deitar na minha cama.
         - Na sua cama? Tem certeza?
         - Claro! Descansa um pouco enquanto eu faço a cobertura do bolo, e quando tudo estiver pronto eu te acordo. Agora vêm.
        Ajudei Nathaniel a se levantar, passando seus braços pelo meu ombro, e subimos as escadas. Deitei-o na minha cama, e vê-lo do lado dos meus ursinhos de pelúcia foi um tanto quanto engraçado. Dei-o um travesseiro e o encobri com um edredom azul. Ele dormiu novamente.
         O tempo passou e, com menos de duas horas, o bolo, a cobertura (com pedacinhos de morango que achei na geladeira) estavam prontos. Fiz suco de laranja, meu favorito. Olhei as horas e já eram quase sete da noite e eu não havia tomado banho ainda. O quarto de Marry e de meus pais estavam trancados, e já que Nath dormia no meu, resolvi usar o chuveiro do banheiro comum.
         A água caia sobre o meu corpo, quente e suave, em contraste com os meus pés, dançando ao toque da cerâmica fria. Meus cabelos, encharcados, grudaram-se contra minhas costas, alcançando até minha cintura. Tudo estava muito bem, mas a sensação vazia que tanto me perseguia anteriormente, me atingiu. Vejo Jade, indo embora, deixando tudo para trás. Sem motivo algum para fica ao invés de ir e me deixar. Penso em Ken, treinando exaustivamente para mudar, para poder superar o amor que sentia por mim e que eu não conseguia enxergar e perceber. Nath, me vigiando durante a noite, esforçando-se para se manter acordado para poder me ajudar caso eu necessitasse.
         Por que todos ao meu redor não podiam ficar apenas bem? Eu, definitivamente, era um imã de dor, ou pelo menos, decepção. Não só para os outros, mas também para mim mesma. Ser hipócrita o bastante por permitir Kentin se vingar de Ambre com aquele namoro falso. Tão obsessivo que, até hoje, estão juntos, e pelas noticias que recebi, felizes. Ser fraca por fugir quando Ken me ofendeu. Ser distraída a ponto de ser atropelada... Não, minha inimiga não é a Ambre.Sou eu mesma.
        Cai de joelhos, a água corrente contra minha nuca, sufocando as lágrimas que brotavam e escorriam. As faxas e bandagens estavam envolvidas por um plástico na altura da costela,para que a água não as danificasse. O vento frio que entrava pela janela me arrepiou. Já haviam se passando cerca de 20 minutos desde que entrei no chuveiro, ou seja, um banho consideravelmente demorado. Peguei minha toalha, sequei-me. E percebo que esqueci de pegar as roupas no meu guarda roupa.
         Bem, terei que ir ao meu quarto, pensei. Enrolo-me na toalha, e sorrateiramente, entro no meu quarto. E não há ninguém deitado na minha cama. UFA! Nath deve ter acordado e decido ir comer. Fecho a porta e desamarro a toalha, deixando-a cair no chão. Abro o guarda-roupa e opto em pegar um vestid...
         -Emery!- A voz de Nath surge, ambos surpresos. Me viro, e o encontro do outro lado do quarto, olhando-me nua, em pânico.-Desculpe, eu usei seu toalete e ouvi alguém fechando a porta e...- gaguejou.
          -FECHE OS OLHOS, NATHANIEL!- e me enrolei na toalha novamente. Quando estava coberta, disse-o: -Pode abrir agora.
           Nath me olhou, envergonhado. Tentou balbuciar desculpas mas o interrompi; -Está tudo bem,a culpa não é sua. Eu devia ter avisado. Vamos só esquecer isso, okay? - Ele balançou a cabeça e foi em direção a porta, ainda com o rosto bem vermelho.
          -AH!Nat, espere! Já que você está aqui, tem como prender o meu sutiã? É um pouco complicado e... Bem, uma ajudinha poderia ser util.
          - Ahn, okk, Em's.
           Virei-me de costas e abaixei a toalha, deixando-a cobrir apenas a minha cintura. Senti seus olhos nas minhas costas. Aos poucos, Nath se aproximou , e arrepiei quando, enquanto pegava o fecho, tocou minha pele e o curativo. Prendeu-o com rapidez, como se fosse simples tirar e por peças intimas.
          -Pronto- ele disse, mas não tirou as mãos de minhas costas. Deixou-as cair, escorregando até a minha cintura. - Emery... Em's..
         Seus dedos, firmes, porém com calos e judiados com o trabalho de representante, pegou meus cabelos e os deixaram de lado, abrindo espaço para que seu hálito doce e quente se chocasse contra o meu ombro. - Eme...- Nath sussurrou, mas foi interrompida, por uma voz, tão familiar quanto a minha própria.
          -Estou interrompendo, Emery?
         Nath se separou, com certeza, corando. Mas eu permaneci imóvel, o estômago contraído de pânico e saudade. Não possuía forças para me virar e encarar quem estava na porta.
          - Nem sequer mereço que olhe pra mim enquanto falo com você?- Disse, com o tom amargo, como se estivesse dominado por ódio e dor. Virei-me, sabendo que o verde de seus olhos, que se escureciam quando estavam em aflição, seria mais doloroso que um tapa ou ,até mesmo,facadas. Virei-me:
           -A quanto tempo.... Jade.

                                                           ***

             Inkas, estirada na cama, agarrou firme a caneta. Era incrivelmente boa para dar conselhos, mas escrever uma carta, era algo completamente diferente. Respirou fundo, e, imediatamente, sentiu os lábios vermelhos e quentes de Castiel em suas omoplatas, cobertas por uma blusa de tecido fino, subindo até a clavícula esquerda, deixando rastros incendiários por onde passava. Era assim que Cast, seu namorado, acalmava-a: de uma forma sensível, doce e íntima.
             Suspirando e ordenando a linha de raciocínio (ou, talvez, tentando apenas conter os leves e constantes tremores que percorriam seu corpo), começou:

         North Ocean, 17 de agosto de 2012
                              Irmão,
             Desde que embarcou para South Lake City, não tenho mais notícias suas. Como está? Espero que bem. Aqui é muito sem vida na sua ausência, Jade. As flores do jardim da Sweet Amoris estão, em sua grande maioridade, mortas, já que nem você e Emery estavam lá para cuidá-las. Agora, as únicas cores que se pode encontrar são os das roupas extravagantes de Ambre e o verde de meus cabelos.
              Mas, sem desviar de assunto, escrevo-lhe com ótimas notícias. Logo, graças a uma excursão escolar, irei passar dois dias em Phoenix, ao lado de toda a minha turma e, portanto, creio que pode ser a oportunidade perfeita para que você volte para North Ocean e converse com Emery. Coincidentemente, ela receberá alta um dia após a minha viagem, então pode surpreende-la na casa de Marry (a irmã, lembra?). 
             Lembra de como os cabelos da Em's costumava a dançar quando estava com você? Como os seus olhos brilhavam quando ela te via na esquina, e corria para te abraçar? Ou quando ficava corada, quando você, gentilmente, passava os anéis dos dedos sobre a bochecha e repousava em seu queixo, alinhando-a para um beijo Desde que você se foi, Jade, e Ken deixou-a completamente , Emery nunca mais foi a mesma. 
             Os únicos momentos em que vejo traços de seu verdadeiro eu, é quando está, ou cercado por amigos, rindo e fazendo palhaçadas, ou quando está com Nath. Pelo o que consigo presenciar, ele funciona como um sol para ela, transferindo sua luz e deixando-a radiante. Mas quando o sol se põe, o brilho vai embora, arrastado pelo vento e pela lembrança do atropelamento.
              Você, sendo um irmão mais velho, deve estar se perguntando como anda o meu relacionamento,e  tenho o prazer de te dizer que estou extremamente feliz ao lado do meu "tomate". Mas te peço que não conte a Emery sobre sermos irmãos e sobre eu saber onde você está. Ainda não tivemos uma oportunidade adequada para que eu possa contá-la e creio que ela poderia se zangar pelo meu silêncio. 

                                       Aguardo, ansiosamente, sua resposta.
                                                    Abraços, 
                                                         Inkas.
           Levantando-se, Inkas entregou a carta a Castiel, que imediatamente se prontificou de mandar para o correio. Em pouco tempo, seu irmão poderia entrar em contato.


                                                    **** Dias depois ****

         Jade encontrou, dentro da caixa de correspondências, um envelope turvo, de tom gesso.
Retirou a carta, escrita com a letra legível, porém desastrada, de sua irmã. Enquanto percorria o terceiro parágrafo, seus olhos se encheram de lágrimas. Não era capaz de imaginar Emery murchando, como as flores do jardim da escola.
         Mas algo o deixou alarmado: Inkas havia dito " não conte a Emery sobre sermos irmãos e sobre eu saber onde você está. Ainda não tivemos uma oportunidade adequada para que eu possa contá-la e creio que ela poderia se zangar pelo meu silêncio.". Mas ele já havia escrito, dizendo a Em's sobre eles serem irmãos e deixara claro, mesmo que implicitamente, que ela sabia onde ele estava. Aquilo seria um problema? Não respondeu, apenas pegou o telefone em busca de passagens.



Welcome

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Bem- vindos ao meu pequeno mundo *-*

Sobre o Blog

" História de uma docete é apenas um blog que dá asas a minha imaginação. Cada personagem possui uma pequena parte de mim, independente se é boa ou ruim. Sempre abordo o amor, o ódio, a dor, o medo e a amizade quando escrevo algo, pois são fatores que estão constantemente presentes em nossas vidas. Acho maravilhoso abordar o que é recíproco ou não, e por isso, garanto que este blog será um cantinho no qual iremos nos apaixonar cada vez mais!"
-Emme