O sol, a rosa e a neve. Nath, Jade e eu, respectivamente. Nos imaginar assim deixava a minha mente mais relaxada e descontraída enquanto andava novamente para a casa de Inkas. Eu já havia atingindo o meu limite atlético do dia, então tudo que eu podia fazer era andar, e não correr. Se tudo ocorresse bem, eu chegaria em meu destino em trinta minutos.
        Eu devia me decidir. Haveria que escolher entre o sol de minha vida e a rosa que perfumava os meus dias. Conviver com Jade me forneceu uma imensa sensação de alegria. Eu adorava acordar e sentir o cheiro de sua pele bronzeada e as mãos fortes de jardineiro eram firmes no meu corpo. Mesmo assim, os seus beijos eram tão doces, tão macios... Eu também adorava seus cabelos verdes, chamativos e desgranhados. Poderia ficar horas sentindo-os entre os meus dedos.
        Nath, por outro lado, me fazia transbordar em segurança e gentileza. Estar com ele era o mesmo que ser preenchida por pensamentos positivos e duradouros. Quando ainda estava no hospital e ele se sentava ao meu lado na maca, eu apenas precisava me apoiar em seu peito para que toda a  dor e o medo evaporassem do meu corpo. E como se todo esse carinho não bastasse, Nathaniel ainda possuía cabelos dourados tão vívidos que me deixavam hipnotizada.
       Eu provavelmente teria continuado com esses pensamentos, mas uma silhueta comum surgiu e se aproximou. Jade. Eu permaneci imóvel, parte de mim ansiosa para correr até ele e me jogar em seus braços, outra assustada, em alerta para qualquer demonstração de dor e raiva. Deixei que viesse até mim, e quando me alcançou, disse:
-Eu estava retornando a South Lake City, mas depois de algumas tentativas frustradas de "você não está bem o bastante" e "estou com saudades, fique mais um pouco", Inkas me contou que você estava indo conversar comigo. Só que eu não podia imaginar você andando sozinha nessas ruas essa hora do noite. Fiquei preocupado.
-E...como me achou? Não é uma cidade pequena- eu disse, ainda surpresa. Ele estava sereno, facilitando para conversar.
-Inkas disse que tinha alguma ideia de onde você estava. De todo o modo, que bom que te achei. E queria te pedir desculpas por ter entrado na sua casa com a chave reserva.
-Esta tudo bem. Se eu não confiasse em você, não lhe deixaria saber onde fica a chave.- eu disse, lembrando de todo o ocorrido.- E a propósito, desculpe por tudo o que você viu naquele dia.
        Jade ficou em silencio. Em seguida, olhou as estrelas, longa e demoradamente, como se fosse a primeira vez que fazia isso em muito tempo. Eu o acompanhei. O céu estava tão escuro que ressaltava o brilho da lua cheia. Por um impulso, me lembrei dos cabelos ensolarados de Nathaniel. Afastei o pensamento e me concentrei em Jade.
-Está tudo bem, também. Eu não deveria ter reagido daquela maneira por você estar seguindo com alguém. Eu a abandonei. Não deveria ter feito isso, mas achei que era a melhor opção. O seu coração era do Kentin.
- O meu coração, Jade, não pertence a ninguém além de mim. Não é seu, não é do Nathaniel e nunca foi do Kentin.- Eu disse, me virando para encará-lo. A imensidão de seus olhos verdes me deixou em êxtase.- Não devemos dar o nosso coração a pessoas que amamos. Devemos deixa-lo aberto para receber as pessoas que amamos. Algumas delas irão embora, outras ficarão para sempre, mas não seria essa a essência de amar? Torcer para que a pessoa escolha o seu coração como morada? E caso não faça isso, rezar para que ela tenha com alguém a felicidade que você não pode dar.
       Nos sentamos num canteiro de flores em frente a uma loja de ferramentas antiga. Silêncio. Comecei a brincar com algumas pétalas rosadas.
- Eu te amo, Emery.- ele disse, rompendo a calmaria que nos envolveu. As palavras foram diretas e sinceras.
- Eu também te amo, Jade. Mais do que eu mesma gostaria de admitir.- rimos juntos.
Senti sua mão tocar a minha. Com a ponta dos dedos, fez pequenos padrões circulares sob a minha pele. Eu me aproximei. Sabia aonde chegaríamos e, alguns segundos depois, estávamos nos beijando. Enquanto um de seus braços me pegou pela cintura e uniu nossos corpos, o outro subiu e, com a palma da mão, tocou a minha bochecha. Depositei as minhas em seu peito e, logo depois, segurei a parte de trás de seu pescoço com todas as minhas forças.
         Não sei quanto tempo permanecemos ali, mas foi o suficiente para que o ar de meus pulmões sumissem por completo. Quando paramos para recuperar o fôlego, ele encostou sua testa na minha. Algumas lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Ele fitou o chão e, em seguida, olhou me profundamente.
- Por que eu tive a sensação de que esse beijo é uma despedida, Emery?
- Porque eu estou dizendo adeus, Jade.- Minha voz arranhou a minha garganta. Aquilo machucava nós dois.
- Eu achei que você me amasse... que...- eu o interrompi, colocando o dedo em seus lábios macios.
- Eu amo, Jade. E é por te amar que eu estou te deixando partir. Você é uma alma livre, Jade. Nasceu para viajar, encontrar plantas novas pelo mundo, conhecer novos lugares... Eu não sou assim.
         Limpei as lágrimas eu seu rosto e beijei sua bochecha. Nos abraçamos por um bom tempo.
- Bem, eu não posso discordar de você.- Ele me disse.- Me mudo para Park City no mês que vem.- Novamente, nós rimos.- Eu tenho que ir agora, Emery. Inkas deve estar preocupada e tenho muito o que arrumar para poder ir embora amanhã. Seguir em frente.- ele deu uma pausa. respirou fundo, -Adeus, Emery.
- ATÉ LOGO- corrigi-o. O canto de sua boca se levantou. Saudades de vê-lo sorrindo assim.
- Até! E nunca se esqueça que sempre te levarei comigo.
- E você sempre ficará comigo, bem aqui- eu disse, apontando para o meu coração. Clichê, mas sincero.- E Jade? Minhas chaves reserva sempre estarão no vaso de orquídeas.- Ele acenou positivamente, sorrindo e com nítidas covinhas.
       Eu fiquei no meio da rua vendo-o se afastar. Não havia carros transitando, mas mesmo se houvesse, eu não me importaria. Ele virava vez ou outra e acenava e, quando realmente desapareceu do meu campo de visão, eu pude voltar pra casa. Havia apenas algumas palavras de Nath na minha cabeça:
"Amanhã, as oito horas da noite, estarei na ponte da cidade. Se você for lá, eu saberei que me escolheu."
Eu havia o escolhido.


                                                                     ***
        O dia seguinte passou rápido. Eu precisei fazer algumas lições atrasadas e ajudei Marry a arrumar algumas roupas novas que ganhou de presente de Lys. Parece que ser namorada do irmão do dono da loja de roupas também te dava algumas vantagens.
         De todo modo, quando deu as sete horas da noite, comecei a me aprontar. Eu não sabia o que vestir e revirei o meu guarda roupa e o de Marry em busca de alguma coisa que fosse decente. No fim, escolhi um vestidinho escuro com pequenas flores, um sapato de salto mediano e o cabelo solto. Era algo simples e bonitinho. Na hora de me vestir, me peguei olhando para a estampa florida e pensando em Jade, mas me concentrei em Nath.
         A ponte da cidade era enorme. Atravessava um rio largo e de água azul que a população se esforçava para cuidar. De dia, a beleza era enorme. A noite, incomparável. Os postes de luz coloniais possuíam as lâmpadas envoltas em cristal, o que iluminava o ambiente com vigor. A água parecia tão calma que poderia ser confundida com um espelho refletindo a lua cheia, pálida e brilhosa.
         Quando me aproximei, eu podia ouvir o bater do meu coração contra o peito. Nervosismo, ansiedade... E se Nath estivesse desistido? E se tudo isso fosse em vão? Pensamentos negativos começaram a ganhar proporções gigantes na minha cabeça, até que eu o vi. Eu ainda estava me aproximando da ponte quando o reconheci. Parado, encostado em uma das grades laterais. Ele parecia preocupado, talvez pelo meu atraso de quinze minutos devido ao trânsito tumultuado.
         Mas tudo mudou quando ele me viu.
         Não havia mais medo. Preocupação, Nenhum sentimento ruim. Apenas presenciei, pela primeira vez, o sol brilhar em plena noite. Ele correu em minha direção e, quando dei por mim, também estava correndo na dele. Queria me desculpar pelo atraso, mas ele não deixou. Tudo que Nathaniel fez foi, depois de sussurrar um "Você veio", me beijar com todas as suas forças.
         Eu estava em órbita. Havíamos nos fundido, sem nenhum espaço entre nós. Segurei sua cintura enquanto ele segurava, com toda a suavidade, o meu rosto e meu pescoço. Depois enlacei sua nuca e deixei que tomasse minha cintura. Seu hálito era agradável e quente. Na verdade, tudo em seu corpo exalava calor. O cheiro era familiar, o mesmo perfume de amêndoas, leve e suave.
        Quando nos separamos, eu me inclinei e beijei toda a região de seu pescoço, a ponta de seu queixo, a maça do seu rosto... Ele mordeu meus lábios em seguida e retomamos o beijo, dessa vez mais suave e menos urgente.
        -Emery...- ele sussurrou o meu nome no meu ouvido, como se fosse devoto a mim. Como se eu fosse o hino nacional e ele, um patriota. - Obrigado por ficar comigo...
        -Eu estava dividida, mas eu também sabia quem eu queria. Era você quem ficou comigo quando eu precisei. Era você que cuidou de mim e que me ajudou a superar uma das piores fases da minha vida. Jade vai ficar bem, ele é uma alma livre. Eu não.- eu olhei nos olhos de Nath. Uma mistura de dourado e caramelo.- Eu te amo Nathaniel.
       -Eu te amo, Emery.
       Naquela noite, tudo foi perfeito. Comemos pizza e, para nossa surpresa, começou a chover. Podíamos ter esperado a garoa passar, mas qual graça haveria em observa-la cair? Preferimos sair e sentir as gotas sobre nós. Também beijei-o na chuva. Pela primeira vez, tudo parecia em completo equilíbrio.
       Marry e Lys estavam firmes em seu relacionamento e Inkas e Castiel estavam mais felizes do que nunca. Ela sempre me atualizava sobre Jade, em constante viagem pelo país. Ele estava feliz e pretendia passar o natal conosco. Por fim, Nath e eu estávamos juntos em um namoro sério e bem alegre.
       Algumas escolhas podem ser destrutivas, pois conseguem abalar o nosso emocional. Mas, na maioria das vezes, não tomá-las é o que realmente nos destrói. Somos humanos e devemos aprender que nem sempre as coisas serão como queremos. Iremos perder amigos, familiares... Tudo que temos que fazer é lutar por quem nos faz bem e ter a maturidade de que, as vezes, amar alguém é deixá-lo ir. No fim, o que vai te fazer melhor é ser ciente de que fez tudo ao seu alcance de forma honesta e amorosa.
       Assim, eu estava bem. Finalmente.


                                                                   FIM
     
Agradecimentos: Gostaria de agradecer a minha amiga Marry, que me ajudou em diversos momentos na história, tanto com as capas e templetes, quanto com os bloqueios criativos que tanto aflingem os autores. Espero que tenha se sentindo homenageada como irmã de Emery nessa História De Uma Docete. Também quero deixar o meu "obrigado" para minha amiga Maria Karolina, que me tirou de diversas crises de autor e que sempre está do meu lado, independentemente se estou escrevendo ou vivendo. Você é a minha Inkas.
                                                   Com amor,
                                                                    Emerson
                                                                           (Emme)
     


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Sobre o Blog

" História de uma docete é apenas um blog que dá asas a minha imaginação. Cada personagem possui uma pequena parte de mim, independente se é boa ou ruim. Sempre abordo o amor, o ódio, a dor, o medo e a amizade quando escrevo algo, pois são fatores que estão constantemente presentes em nossas vidas. Acho maravilhoso abordar o que é recíproco ou não, e por isso, garanto que este blog será um cantinho no qual iremos nos apaixonar cada vez mais!"
-Emme