-Nathaniel, por favor-, disse Jade- tem como nos deixar as sós? Queria conversar com Emery por alguns minutos.
       -Ahn, tudo bem, então-, respondeu.

              Peguei uma blusa larga,daquelas que ultrapassam os joelhos,e vesti-a. Mas ainda não possuía coragem para me virar e olhar em seus olhos. Minhas pernas bambearam, mas não caí.
     -Olhe para mim, Emery- disse, com tons agudos de sofrimento. Aquilo era doloroso para nós dois. Meus músculos se contraíram, minhas unhas se cravaram nas palmas de minhas mãos, e virei.
              Olhei-o em um misto de emoção e espanto. Seus olhos, ao contrário do que imaginei, estavam desbotados e fundos, sua pele, normalmente bronzeada, empalecera. Abaixei a cabeça, forçando-me a não chorar e sufocar o pensamento de que eu era a responsável por tanta destruição e dor. Ele te abandounou, Emery. A culpa não é sua, pensei.
     - É tão fácil substituir alguém,não?
              Fitei-o. Sua pergunta, mesmo dita em voz alta, não parecia ter sido direcionada a mim. Estava pensando alto.
     -Você voltou. Não achei que isso fosse acontecer.- balbuciei, gastando minhas reservas de coragem.
     -E pelo visto você não teve dificuldade em me esquecer- Senti-me como se tivesse sido estapeada por aquelas palavras. Slap.
     - Queria que eu ficasse te esperando?
     - Eu te amava e...
     - Que forma adorável de demonstrar, não? Agora, abandonar alguém é o mesmo que dizer um "Eu te amo"?- Slap. Agora eu o havia acertado.
            Ficamos em silêncio. Ambos desviamos os olhares. Nossas vozes se amansaram.
      - Por que me deixou?- eu disse, sentindo as lágrimas quentes tomarem forma.- Por que não ficou comigo? Podíamos ter dado certo e...
       - Durante a noite, você chamava o Kentin. Sussurrava seu nome. Você estava se torturando para fazer o nosso namoro ser real e ...-Parou, respirando fundo- e isso me matava.
                Sentei-me na cama. Meu estômago se revirou. Eu era a responsável por Jade ter partido. Era simples. Mas eu o amava. Estava dividida, sim, confesso, mas nada que havia dito era mentira. Iria responde-lo, mas continuou:
       - Eu te mandei uma carta. Você poderia ter me mandado alguma notícia, um sinal de vida. Seria decente da sua parte.
       - Desculpe, mas tive alta hoje do hospital.
       - Hospital?- Ele perguntou, meio atordoado.
       - Alguns dias depois que foi embora, eu fui atropelada. Fiquei adormecida por alguns dias e tive que esperar algumas sequelas melhorarem, mas estou melhor agora...
                Ele se sentou em uma cadeira antiga encostada perto da porta. Tapou seus olhos com as mãos e apoiou seus cotovelos nos joelhos. E após alguns minutos em silêncio, Jade começou a soluçar. Estava chorando, rítmica e dolorosamente. Odiei-me. Por fazer Jade chorar, por ser distraída o bastante para ser atropelada e, simplesmente, por existir. Odiei-me tanto que também chorei. E, aos poucos, sussurrei:
          -Eu queria que você estivesse lá. Esperei horas, dias por noticias suas. Mesmo que ligasse dizendo que nunca mais queria me ver, seria algo bom, porque eu iria saber que você estava bem..- engasguei. A voz começava a falhar- Nath foi um amigo fiel. Estevava lá sempre que podia, deixando suas responsabilidades de lado para me reconfortar e apoiar... Então não me odeie por transformá-lo em um porto seguro. E não o odeie por me dar essa oportunidade.
               Jade se levantou. Enxugou as lágrimas na manga da camisa fosca e olhou-me, como havia feito diversas vezes. Mas eu desconhecia aquela expressão: Dúvida? Indiferença? Sustentei o seu olhar, vazio e oco. Depois, disse, com a voz ainda alterada:
            -Tenho que ir. Sugiro que troque o esconderijo de sua chave extra: O vaso de orquídeas que eu te dei não é muito seguro.
                E foi embora. Ouvi seus passos,descendo as escadas e, segundos depois, o bater da porta. O que eu deveria fazer agora? Novamente, eu estava perdida.
     

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Sobre o Blog

" História de uma docete é apenas um blog que dá asas a minha imaginação. Cada personagem possui uma pequena parte de mim, independente se é boa ou ruim. Sempre abordo o amor, o ódio, a dor, o medo e a amizade quando escrevo algo, pois são fatores que estão constantemente presentes em nossas vidas. Acho maravilhoso abordar o que é recíproco ou não, e por isso, garanto que este blog será um cantinho no qual iremos nos apaixonar cada vez mais!"
-Emme