Haviam espinhos em toda a parte. O sol estava brilhando fraco e aos poucos ia se desfazendo, como feito de migalhas. Este então é o fim do mundo?, pensei, mas antes que concluísse a linha de raciocínio, um zumbido feroz cortou o ar, indicando que algo se aproximava. No horizonte, uma forma negra apareceu e, em alta velocidade, tomou forma: um carro. Quando me preparei para correr, percebi que não conseguia mexer minhas pernas, mas já era tarde; o carro estava bem na minha frente e....
             Acordei. Estava deitada em uma maca hospitalar branca, assim como todo o quarto. Na cabeceira, haviam rosas vermelhas com um bilhetinho assinado com a caligrafia de Mary. No sofá, havia um garoto de cabelos lisos e loiros dormindo. Nath,pensei, O que está fazendo aqui? Ia me levantar e acordá-lo com um abraço, mas uma onda de dor surgiu na costela e percorreu meu corpo, fazendo-me gemer. Creio que o som roco de minha garganta foi mais alto do que o esperado, já que Nathaniel acordou e, apressadamente, levantou e se sentou ao meu lado.
            Ele me olhou com intensidade, os cabelos desgrenhados, o pulso firme e a boca rígida. Pareceu ouvir as dúvidas em minha cabeça, como se eu as tivesse dito em voz alta.
            -Você foi atropelada, Emery. O motorista fugiu, mas você vai ficar bem e é isso que importa.- Tocou de leve a minha mão, como se eu fosse um vaso frágil prestes a quebrar. Mas eu não era, e , portanto, puxei-o para um abraço apertado que, através de toda a dor que me gerou, foi a única forma de digerir todas aquelas informações. Nath sentiu o quanto eu necessitava daquilo e não me afastou, apenas me envolveu suavemente, arqueado minha cabeça em seus ombros, como um bom amigo faria.
          - Nath, quero ir embora daqui! Tenho aula e as provas estão chegando e...
           -Emery- ele me interrompeu, suave e calmo- as provas foram a dois dias atrás. Você está aqui há mais de uma semana!
          Foi como se um punhal se enterrasse entre os meu ossos. Me lembrava vagamente do que havia acontecido: A chuva caindo, meus cabelos soltos, Jade indo embora, o garotinho Luis, o farol amarelado do carro e a dor estrondosa antes da total escuridão, mas ficar inconsciente por 7 dias era demais! Nath sentou ao meu lado, e colocou uma mecha dos meus cabelos abarrotados atrás da orelha. Aos poucos, esticou-se e passou seu braço esquerdo por trás da minha coluna, deixando-me usá-lo como travesseiro.
          Ficamos assim por um bom tempo. Nenhuma palavra dita, nenhum pensamento exposto, apenas o toque do corpo e o calor que irradiava de Nath. As pessoas falavam que Castiel era como o fogo, enérgico e quente, e Nathaniel como pedra, sério e focado, mas discordo. Nath é tão brilhante quanto o Sol, ainda mais com o bronze de sua pele e o dourado de seus cabelos.
          - Estes dias, Inkas, eu, Mary e até o Castiel vieram te ver. Rosa e o Lys vão vir amanha, quando sairem da loja. Todos estão preocupados e adorarão saber que acordou.
          - E Kentin? Jade?- Perguntei, a voz fraca e inexpressiva.
          - Jade ainda não apareceu e Kentin está numa viagem com Ambre. Os dois oficializaram o namoro logo após o seu acidente. Sinto mui...
          - Não se desculpe, Nathaniel. Eu e Ken somos amigos, bem, ou fomos, e não tenho nada a ver com a vida pessoal dele. Jade também sabe se cuidar, ele vai ficar bem. Eu não sei é como eu vou ficar nessa história.
          - Você tem amigos. Alguns, como a Íris, não te visitaram por diversos motivos, mas mandaram cartões e chocolates. Estão junto com as flores de Mary. E acima de tudo, tem a mim, e nunca abandono meus amigos, ainda mais quando são como você, especias de mais pra se perder.- Suas bochechas coraram, e eu me inclinei para beijar sua testa, bem na hora em que o médico entrou pela porta:
          -Desculpe interromper- disse, claramente envergonhado- mas a senhorita Emery precisa de descanso. Poderá vê-la amanhã,e não adianta dizer, mocinha, que não quer repousar. São normas do hospital!
          E antes que eu evitasse, Nath se levantou, beijou minha bochecha e sussurrou um "Até amanha, Emery!". Parou na porta e antes de se retirar, sorriu para mim, me fazendo rir junto consigo. Tentei virar para o canto, focando o olhar nas pétalas vermelho-sangue das rosas. Adormeci logo após.
       

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Sobre o Blog

" História de uma docete é apenas um blog que dá asas a minha imaginação. Cada personagem possui uma pequena parte de mim, independente se é boa ou ruim. Sempre abordo o amor, o ódio, a dor, o medo e a amizade quando escrevo algo, pois são fatores que estão constantemente presentes em nossas vidas. Acho maravilhoso abordar o que é recíproco ou não, e por isso, garanto que este blog será um cantinho no qual iremos nos apaixonar cada vez mais!"
-Emme